Elementos para o conhecimento das fontes das nossas fabulas: Romulus vulgaris; Anonymo de Nevelet (= Gualterius Anglicus ou Walter inglês), sec. XII, e sua importancia; acordo d-O Livro de Esopo, no numero e assunto das fabulas, com o Fabulario de Walter; differenças avulsas que apresenta O Livro de Esopo; conclusão.— Quadro genealogico dos fabularios medievaes.— Caracter d-O Livro de Esopo.— Monumento unico na nossa litteratura antiga.— Obra desconhecida dos que se tem occupado da historia das litteraturas romanicas.
No prologo do nosso Fabulario, ou O LIVRO DE ESOPO, lê-se: Exopo .. fez este liuro em greguo, e depois foy trelladado de greguo em latino de hũu ssabedor chamado Rromulo. Se tal indicação fosse exacta, não haveria nada mais facil do que determinar as fontes do Fabulario: elle proviria de Esopo, por intermedio da traducção latina de Romulo. Mas isso não se passou com tanta simplicidade, como vamos ver.
Effectivamente ha uma collecção latino-medieval de fabulas em prosa, cujo autor diz, de acordo com o citado texto do Fabulario: Esopus quidam homo grecus et ingeniosus famulos suos docet quid homines observare debeant .. Id ego Romulus transtuli de greco in latinum. A esta collecção de fabulas chama Hervieux, na sua preciosa e monumental obra Les Fabulistes Latins, vol. I, p. 330, e vol. II, p. 195, Romulus vulgaris ou ordinarius, e reprodu-la na mesma obra, vol. II, p. 195 sqq., d’onde extrahi o trecho transcrito[1]. O Romulus vulgaris provém, com outras collecções, de um texto em prosa, hoje perdido, que o precitado autor intitula Romulus primitivus, texto que, por intermedio de uma antiga collecção denominada Aesopus ad Rufum, deriva das Fabulas de Phedro[2].
- ↑ A respeito da obra de Hervieux, vid. a importante noticia que deu d’ella Gaston Paris no Journal des savants, 1884, 1895 e 1899. Cfr. tambem Romania, XV, 629-631. — Esta obra consta até o presente, que eu saiba, de 5 volumes. Quando citar os vols. I e II, entenda-se que cito sempre a 2.ª edição.
- ↑ Hervieux, ob. cit., I, 666.