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são quasi sempre mais desenvolvidos no nosso fabulario, pois elles contém frases latinas, adagios portugueses, conceitos moraes, e mesmo trechos que no texto latino faziam parte da fabula propriamente dita. — Alterações semelhantes se encontram noutros fabularios medievaes, como no que serviu de modelo a Marie de France[1], nos italianos[2], e no Ysopet de Lião[3].

Passemos agora a algumas minudencias.

O prologo compõe-se, como vimos, de duas partes: uma, com a biographia de Esopo, extrahida do Liber de vita et moribus philosophorum de Burley ou Burleigh; outra, com o plano do livro, analoga ao prologo de Walter.

Na fab. I diz o gallo á pedra preciosa: eu sseria mays ledo sse achasse hũa pouca de hisca pera comer. Walter tem: plus amo cara minus, isto é «prefiro cousas menos caras». No Yzopet de Lião os vv. 49-50,


Muez[4] ainz[5] grains de fromant ou d’orge,
Quar miez[6] me font ourir[7] la gorge…


correspondem melhor ao texto português. Mas Phedro, Fabul., III, XII, tem: ego .. potior cui multo est cibus.

Na fab. III a expressão e o rrato rrespondeu .. que lh’o agradeçia muyto falta em Walter. No Yzopet de Lião corresponde-lhe:

E de ce formant li mercie, v. 148.

Na fab. IV o carneiro vende a lã e morre de frio, pelo que depois o cão e as testemunhas o devoram. Em Walter faltam as duas ultimas circunstancias, pois se diz que a ovelha, ovis, vende o seu vestuario e fica exposta á acção do tempo. O Isopo Riccardiano procede como Walter; mas ha outros dois volgarizzamenti italianos em que succede como n-O Livro de Esopo: «la pecora .. si fa proprio morire, e per giunta mangiare»[8].

Na fab. V o cão, depois de furtar a carne, passa uma ponte. A circunstancia da ponte falta em Walter e em Phedro (nas fabulas de ambos o cão vai nadando), mas encontra-se na collecção intitu-

  1. K. Warnke, Die Quellen der Esope der Marie de France, Halle 1900, p. 4.
  2. Peabody Brush, The Isopo Laurenziano, Columbo (Ohio) 1899, p. 75.
  3. W. Förster, Lyoner Yzopet, Heilbronn 1882, p. IV.
  4. Lat. melius.
  5. Lat. amo.
  6. Lat. melius.
  7. = fr. ouvrir.
  8. Codd. Laurenziano, Mocenigo e Farsetti: vid. Ghivizzani, parte I, p. CXV.