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belecida a probabilidade de que o Isopo Riccardiano, e por ventura outros fabularios medievaes, assentarão do mesmo modo em redacções ou dissoluções prosaicas dos versos do poeta inglês, e não immediatamente nestes; taes redacções eram, como sabemos, muito numerosas, e deviam andar com frequencia nas mãos dos escolares. Ainda que a minha hypothese, não obstante explicar o accôrdo de certas particularidades d-O Livro de Esopo com as dos fabularios medievaes, e o desaccordo d’elle, nesse ponto, com o texto gualteriano, venha a ser rejeitada pelos philologos, e substituida pela de que o compilador português, em logar de utilizar um texto em prosa, traduziu livremente o poeta inglês, não se poderá negar que ao menos teve presente ao acto da traducção outros fabularios.

Reportando-nos outra vez, e por fim, ao prologo das nossas fabulas, do qual fiz proceder este estudo, verificamos que o compilador, quando affirmava que ellas provinham de Esopo, seguia uma tradição litteraria muito em voga na idade-media, embora, enunciada assim em absoluto, fosse inexacta. Digo assim em absoluto, porque, se muitas fabulas ascendem de facto a Esopo, por intermedio de Walter, Romulo e Phedro[1], outras tem diversa origem, e mesmo as que ascendem, modificaram-se na longa viagem.



Para que o leitor possa num relance ver a relação em que estão entre si os fabularios que mais tenho citado até aqui, apresento-lhe o seguinte quadro genealogico:

  1. Lê-se neste poeta, liv. I, prologo:
    Aesopus auctor quam materiam reperit,
    Hanc ego polivi versibus senariis.