Apesar de o nosso Fabulario constituir, como acabo de dizer, certa novidade na litteratura portuguesa dos secc. XIV-XV, parece que foi pouco divulgado, pois não me consta que haja allusões a elle em obras portuguesas contemporaneas ou posteriores, nem que exista outra cópia manuscrita, senão a de Vienna.
Quanto a esta, a primeira menção, que eu saiba, é estrangeira, e do sec. XIX: encontra-se no Catalogo da respectiva Bibliotheca, ou Tabulae codicum manu scriptorum praeter Graecos et Orientales in Bibliotheca Palatina Vindobonensi asservatorum, publicação feita pela Academia Caesarea Vindobonensis, vol. II, Vindobonnae («Vienna») 1868, p. 247. Essa menção é assim concebida: «3270 (Philol. 291) ch. XV, 46, 4.º Aesopus, Fabulae in linguam Lusitanam versae. Incip.: Segumdo diz o liuro.. Expl.: empeeçem mays que peçonha. Explicit liber Exopy cum alegorijs»[1]. Foi por este Catalogo que tomei conhecimento do manuscrito, quando, em 1900, estive na Bibliotheca de Vienna.
Em 20 de Março de 1902 dei noticia d’elle ao público português, em sessão da segunda classe da Academia Real das Sciencias de Lisboa: vid. o respectivo Boletim, I (1903), 235. Depois d’isso tornei a referir-me a elle, em 1904, em um artigo inserido na Revista Pedagogica, I (n.º 25, de 22 de Maio), pp. 388-390.
Até á publicação que faço agora, o manuscrito jazeu enterrado, e, por assim dizer, esquecido na rica Bibliotheca de Vienna de Austria. Apesar da indicação já ministrada pelas Tabulae em 1868, ninguem, tanto quanto pude averiguar, o utilizou ou compulsou; nem F. Wolf, que era viennense, e foi funccionario da propria Bibliotheca, e a quem tamanho carinho mereceu a nossa litteratura[2]; nem Reinhardstoettner, que ahi copiou outro precioso monumento, a Demanda do santo graall[3]; nem O. Klob, que tirou nova copia do mesmo monumento[4]; nem Hervieux, que buscou por toda a parte, e lá mesmo, elementos para a sua obra[5]; nem finalmente Keidel, no seu recente artigo Notes on Æsopic Fable Literature