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FABULARIO PORTUGUÊS

Tanto o brasão como as lettras e a data são doirados. As iniciaes superiores significam: E(x) A(ugustissima) B(ibliotheca) C(aesarea) V(indobonensi)[1]. As inferiores: G(erardus) L(iber) B(aro)[2] V(an) S(wicten) B(ibliothecarius), com a data de 1753. — Altura da capa: 0m,22; largura: 0m,1450; largura da lombada: 0m,020. Na lombada collaram-se duas tiras de papel encarnado, uma superior á outra, que dizem respectivamente:

FAB. COD. MS.
ÆSOP. PHILOL.
LVSIT. CCXCI

Como o titulo o mostra, o livro consta de fabulas em português; ellas todavia não são traducções de Esopo, são apenas no gosto esopiano. Chamo provisoriamente ao livro Fabulario Português. As fabulas são em numero de 63, ou, se contarmos como uma unica as de n.º xlix e l, em numero de 62.


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Na transcrição sigo sempre o ms., exceto no seguinte: emprégo lettra maiuscula inicial nos nomes proprios, e depois de ponto final; substituo o s longo, ou ſ, por s; substituo por rr um sinal que no ms. representa o r forte (quasi sempre inicial)[3]; escrevo i, ij, por ı, ıȷ accentuados; j por J; y por y pontuado; separo as palavras procliticas, quando (por ex., a conjuncção e, a preposição a e de, o artigo definido singular, etc.) vem unidas á palavra principal; separo por traço de união, como hoje se faz, as encliticas que no ms. vem unidas á palavra antecedente (escrevo, por ex., tornauan sse por tornauansse); uso de apostropho para indicar a omissão que na pronuncia se fazia de certas vogaes (por ex. escrevo lh’o por lho); desfaço as abreviaturas, regulando-me pela maneira ordinaria como as mesmas palavras estão noutros passos, quando escritas por inteiro[4]; separo os §§; noto por travessões os dialogos; pon-

  1. Vindobona é, como se sabe, o nome da cidade antiga a que hoje corresponde Vienna, e por isso o nome adoptado para esta quando se escreve em latim.
  2. Liber baro, titulo nobiliario, «barão», = allemão Freiherr: Frei «liber», Herr «baro»
  3. Faço sem hesitação esta mudança, porque algumas vezes o tal signal alterna com rr no manuscrito. Podia, tambem, em vez de rr, adoptar r.
  4. A abreviatura nhũ por nenhum ou nem hum é sistematica, e por isso deixo-a. Tambem hoje adoptamos sistematicamente certas abreviaturas, que nunca desfazemos, por ex.: «V. Ex.ª», «D.», «Fr.» e outras. No ms. não se adopta porém a este respeito regra constante. Convém notar o seguinte. No ms. encontra-se frequentemente dc̄co, fc̄co, dc̄cor, por dc̄to, fc̄to, dc̄tor etc., latinismos orthographicos tradicionaes por dicto (dictus), fecto (factus), doctor (doctor); transcrevo essas palavras, e outras analogas, com ct. Quando estiver por extenso autor, douctor, doutor, transcrevo assim mesmo. Não ha duvida que na pronúncia o c não se fazia ouvir. — No ms. oscillam pollo, com o, e pella, com e, etc., oscillação que correspondia, como hoje, á pronuncia; como muitas vezes se encontra escrito pllo, plla etc., com ll cortados, é impossivel saber se quem escreveu queria representar e ou o: para a transcrição regulo-me pela fórma mais proxima d'esse logar, quando escrita por extenso. — Outras particularidades vão assinaladas nos seus logares.