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FABULARIO PORTUGUÊS
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quall fez este liuro em greguo, e depois foy trelladado de greguo em latino de hũu ssabedor chamado Rromulo. Aqueste Exopo no primeiro anno do predicto rrey Çiro sse comta que fosse morto de maa morte per emveja.

Este Exopo em aqueste sseu liuro poem[1] muytas estorias ffremosas d’animalias, de homẽes e de aues e de outras cousas, segumdo em elle veredes, pellas quaaes ell nos emsinaua como os homẽes do mumdo deuem de viuer virtuosamente e guardar-sse dos males.

E assemelha este sseu ljuro a hũu orto no quall estam flores e/[Fl. 1-v.][2] fruytos: pellas frores sse emtemdem as estorjas, e pello fruyto sse emtemde a semtença da estoria; e comvida os homẽes e amoesta-os que venham a colher das frores e do fruyto[3]. Ainda compara este sseu liuro[4] aa noz, que ha dura casca, e haos[5] pinhõoes, que demtro teem ascomdido o meolo que he ssaborido: assy este liuro tem em ssy escondido muytas notauees semtenças.


I. [O gallo e a pedra preciosa]

[C]omta-sse que hũa vez hũu guallo, amdamdo em hũa caualariça escaruando por achar algũa cousa pera comer,[6] achou hũa muy fremosa pedra preçiosa; e maravilhou-sse e disse:

— Ó gema preçiosa e nobilisima, a quall jazes em aqueste vill luguar: tu nom fazes a mym nhũu[7] proueyto; mais sse te a ty achasse outra perssoa[8] que conhoçesse o teu nobre esplamdor, tu sserias posta em algũu luguar arteficioso e nobre. Çerto tu nom es compridoyra a mym, nem eu a ty[9]. Eu sseria mays ledo sse achasse hũa pouca de hisca pera comer, que achar ty.




Per aquesta hestoria rreprehemde este auctor os ssamdeus e homẽes de pouco emtender, os quaaes nom curam nem querem curar por a sçiençia quamdo podem; e quamdo achan algũa cousa que lhe sseria proueytosa, ha despre/[Fl. 2-r.]çam e nom curam d’ella, e ao depois sse rrepemdem: assy que pello gualo sse emtende o ssandeu, e pella pedra preçiosa[10] sse emtende a graça da ssapiemçia, a quall nom he conhoçida dos samdeos, mais he conhoçida dos sabedores.

  1. Assim está no original. Leia-se põe.
  2. Repete-se e no começo da pagina.
  3. A esta imagem allude o desenho (á penna) no começo do prologo.
  4. Segue-se q riscado
  5. Entenda-se «aos», dependente de compara.
  6. Segue-se um e, que parece estar riscado. De facto, não faz sentido.
  7. Leia-se nem hũu ou nehũu
  8. No ms. pssoa, com p cortado na perna.
  9. Sobre o ty vê-se um til (um tanto sumido). Foi engano por influencia do mym precedente, isto é my com til. Logo a baixo o ms. tem normalmente ty.
  10. No ms. pçiosa. Acima porém está preçiosa.