que lhe tirasse o dicto osso, prometemdo-lhe que, sse ho désse ssaão, que lhe faria muyto alguo.
E a grua, ouvimdo sseu prometimento, prometeo de lhe dar ssaude e disse:
— Abre a boca.
E o llobo abrio a boca, e a grua lhe tirou o osso que trazia na guargamta trauessado. Depois a grua lhe rrogou que lhe désse o que lhe prometera: e ho /[Fl. 6-v.][1] lobo lhe disse:
— Eu fize a ty mayor graça que tu fezeste a mym, porque eu dey a vida a ty, ca eu te podera talhar ho collo na minha boca, e nom te quys matar: sseja descomtamento do seruiço que tu me fezeste.
E per esta guysa ficou emguanada a grua.
Per esta hestoria ho douctor nos demostra que nós nom deuemos d’ajudar os maaos[2] homẽs[3], porque os maaos nom agradeçem nem ssom conhoçemtes do bom seruiço que lhe outrem faz, mais muytas vezes dam maao grado a quem lhe faz bom seruiço. No emxemplo[4] diz que ha[5] emgratidõoe sséca a fomte da piedade.
[Fl. 7-r.][C]omta-sse que hũa cadella prenhe, queremdo parir e nom avemdo casa, disse a outra cadella, que era muyto ssua amigua, a quall tijnha hũa fremosa casa:
— Rrogo-te, amigua, que me emprestes a tua casa ataa que eu payra meus fi[lhos][6].
A cadella rrespomdeo que lh’a queria emprestar de boamente. E leuou haa[7] dicta cadella prenhe pera ssua casa, e leixou-lhe a casa ataa que parisse.
Esta cadella prenhe pario e fez sseus filhos. E d’hi a hũu çerto tempo tornou a cadella cuja era a casa, e rrogou aa outra cadella que lhe desembargasse ssua casa. E a cadella muyto hirosa ssayo fora com sseus filhos;[8] compeçarom a dizer muytas maas palauras e morder todos na cadella, dizemdo:
— Falsa rribalda, nom ssabemos que dizes, ca esta casa he nossa.
- ↑ Na 1.ª linha da fl. 6 v. repete-se: e o.
- ↑ No ms. mãaos.
- ↑ No ms. homẽs por homẽes. A palavra está em fim de linha.
- ↑ No ms. exº (por ẽxº), perto do fim da linha
- ↑ =a (artigo)
- ↑ O que ponho entre colchetes está delido no manuscrito.
- ↑ =aa (preposição e artigo)
- ↑ Aqui falta talvez e. Por compeçarom o ms. tem compecarom.