chegou per hi a rraposa, e vio que o coruo tijnha o queyjo na boca, e começou-ho muyto de louuar, e dizia:
— Ho coruo, tu es hũa fremosa aue, — bramco e nobre! Sse tu ouuesses assy fremosa voz como tu has as ssimilidõoes do teu corpo, tu serias a mays fremosa ave do mundo! Rogo-te, ó amyguo, que camtes hũu pouco, ca muyto cobijço de te ouuyr camtar…
E o coruo, ouvindo ssuas palauras, começou de camtar; e cayo-lhe o queyjo da boca. E a rraposa o filhou muy asinha, e comê’-o[1], e escarneçemdo do coruo, dizia-lhe que era velhaco, e astrosa aue, e negro, e que o sseu camtar era muyto peor. Pola qual rrazom o coruo foy muyto nojoso polo escarnho que a rraposa d’elle fazia.
Em aquesta estoria o doctor nos emsina que nós nom deuemos creer pollas palauras meyguas, porque muytas vezes emganom os homẽes, e os homẽes quedam em vergomça, ca:
Muytas vezes o mell
Sse mistura com ffell.
[Fl. 11-v.][C]omta-sse que hũu leom era tam velho que sse nom podia mouer; e emcomtrou com hũu asno e com hũu touro e com hũu porco. Veemdo estes que o leom per velhiçe nom sse podia[2] mouer, diserom amtre sy:
— Ora he tempo que filhemos vimguamça d’este treedor, que matou nossos paremtes e fez [a] muytos mal[3].
E ho asno lhe deu dous couçes, e o porco com os demtes e o touro com os cornos. E o leom choraua e bradaua, dizemdo:
— Tempo fuy que eu vemçia todas as alimalias! E ora todalas animalias vemçem a mym! E eu perdoey a muytos, e estes nom perdoam a mym!
Per esta guisa o leom ficou choramdo.
Em aquesta hestoria o doctor diz que nas nosas bem avemturanças deuemos fazer muyto pera avermos amiguos e nom jmijgos, ca os /[Fl. 12-r.] boos amiguos ajudam os homẽes nas ssuas pressas, e os emiigos