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FABULARIO PORTUGUÊS
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fazem todo polo contrayro. Ajmda diz que o homem nom deue fazer a outrem aquello que nom queria que fosse fecto a elle.


XVII. [O branchete, o seu senhor e o asno]

[C]omta-sse que foy hũu senhor que tijnha hũu bramchete muy fremoso, com o qual muytas vezes brincaua; e o bramchete o mordia com a boca e o arranhaua com as maãos, como fazem os cãaes quamdo trebelham com sseu senhor. E hũu asno, veemdo que trebelhauam assy per muytas vezes, cuydou em sseu coraçom e disse:

— Eu todo o dia trabalho, e este meu senhor ssempre me mal diz e fere-me! Per vemtura o faz porque nom trebelho com elle, como faz este bramchete. Quero veer /[Fl. 12-v.] se he assy.

E loguo começou de ssaltar amte sseu ssenhor e lamçou-lhe os braços no pescoço e começou de o abraçar e morder com os demtes; e o ssenhor começou de braadar, e os sseus seruydores veerom a elle com paaos e derom tamtas paamcadas ao asno que o fezerom fugir com gramde dapno.




Em esta hestoria o doutor emssina aaquelles que nom ssom promptos a fazer as cousas, e trabalham-sse de as fazer, que o homem nom sse deue de trabalhar da cousa de que nom he meestre, ca sse o faz, mais asinha pode cayr em vergomça ca em homrra. E diz que ho ssamdeo cuyda[1] de fazer muytas vezes bem e faz mall. Ajmda diz que o ssamdeu faz muytas ssamdices, escarneçemdo de ssy pera fazer prazer a outrem.


XVIII. [O calvo e a mosca]

[Fl. 13-r.][P]om este doutor emxemplo, e diz que hũu velho estaua ao ssoll com a cabeça[2] calua e descoberta, e hũa mosca o mordia na calua; e quamdo o uelho queria dar na mosca, daua na calua. E a mosca tornaua a morder o uelho na calua, e o caluo ssempre daua em ssy com a mãao e nom podia dar na mosca. E assy fez pe[r][3] muytas uezes. O uelho lhe disse:

— Tu cuydas a brincar comiguo, e escarneçes de mym quando eu dou com a minha mãao na calua! Eu te diguo que por dar dez

  1. Ha aqui um borrão ou mancha no ms.; mas vê-se ainda parte do y.
  2. No ms. cabeca.
  3. No ms. pe (esqueceu cortar o p)