sseruyr a[1] dous senhores; e tal como este mereçe de auer mall e pena de treedor, porque desenpara sseu senhor, estreuendo-sse em ell, e lhe foge.
[Fl. 22-v.][P]om este poeta este emxemplo, e diz que estando hũu rroussinoll cantando no sseu ninho, omde tijnha sseus filhos, veo hũu gauiam e tomou-lhe hũu dos filhos do ninho. E este rroussinoll ho rrogaua, quanto podia, que lhe désse o sseu filho e nom lhe fezesse mall, e que ssempre faria sseu seruiço. O gauiam lhe disse:
— Sse queres teu filho, camta o mays doçemente que tu ssabes.
O rroussinoll começou de cantar o milhor que ssabia, e bem que camtaua com a boca, choraua de coraçom. E depoys que camtou, o gauiam scarneçia d’ell, dizemdo que lhe nom parecia bem aquell[2] camto; e d’auante a ssua madre lhe comeo ho filho.
E depois este gauiam voou em hũa aruor omde armauam aas aues com ho visco, e enviscou-sse: e o passareyro o tornou e matou-ho. E o rroussinol vio matar o gauiam, e prouue-lhe d’ello muyto.
Per este emxemplo o poeta nos demostra e diz que os homẽes jnicos e cruees, que ssempre persseueram em mall, digna cousa he que façam maa fim, e mortes maas mouram, assy como ssem piedade derom morte aos jnoçemtes, ssem sseus mereçimentos.
[Fl. 23-r.][P]om este poeta emxemplo, e diz que hũu lobo furtou hũu bode e leuou-ho a hũu gram ssiluado e aly o comia a sseu gram ssabor. E a rraposa, que tudo esto muy bem vio, foi-sse pera elle e ssaudou-ho e disse:
— Deus[3] te mamtenha, meu compadre! Gram tempo faz que eu nom vos vy! Prazer-m’-ia de me rrazoar e ffalar hũu pouco comvosco cousas que me muyto comprem.
Ho lobo lhe rrespomdeo:
— Tu, ffalssa comadre, me cuydas d’enganar com tuas doçes palauras, por comeres comiguo d’este cabram muy ssaborido! Por çerto d’esta uez tu nom me emguanarás!