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FABULARIO PORTUGUÊS

mundo assy forte que ho eu nom ffaça fazer poo e talhar per meo: pero eu te consselho que te nom tomes comiguo, porque quanto me tu mays rroes, eu mays escarneço de ty. Tu cuydas ffazer mall a mym, e fáze-llo a ty.




Per este emxemplo este poeta nos amostra e diz que o homem forte deue sseer misurado, e o homem débille e fraco nom deue contrastar com o poderoso, porque póde d’ello auer uergonça e dapno.


XXXVIII. [Os lobos e as ovelhas]

[Fl. 28A-r.][C]omta este poeta emxemplo pera nos amostrar, e diz que os lobos faziam cada dia gram dapno a hũu fato d’ouelhas; e porque quando os cãaes hi eram nom podiam fazer dapno, porque lhe defendiam o gaado, e quando os lobos vijnham pera tomar as ouelhas os cãaes as defemdiam[1], e cada uez os lobos leuauam a peor, e tornauan-sse com vergomça e dapno, veendo os lobos que lhe nom podiam enpeeçer, mandarom missegeyros aas ovelhas, dizendo que queriam fazer paz.

Aas ouelhas prouue muyto de fazer a paz. Em esta paz ffoy acordado que as ouelhas mandassem aos llobos os cãaes por arrefẽes, e os lobos mandassem[2] sseus filhos aas ouelhas outrossy por arrefẽes. E assy o fezerom.

Hũu dia os lobinhos compeçarom de uyuar muy fortemente. Os lobos os ouuirom e correram allá, e conpeçarom a comer das ouelhas a sseu talamte; e sse os lobos bem matauam, nom matauam menos os filhos. E per esta guisa sse quebrantauam as treguoas, e d’aly auante ssempre viuerom e viuem em guerra.




[Fl. 28A-v.]Per este emxemplo este doutor nos amostra e diz que o homem que nom está sseguro de sseus jmijgos ssempre deue teer defenssores que o defendam, porque, nom auendo defenssores, ligeyramente sseus jmijgos o podem ofemder, como entreueo aas ouelhas que, depoys que os cãaes nom as defemderom, os lobos sseus jmijgos faziam d’elas maao pesar a sseu talamte.

  1. Em vez do m ha um borrão no ms.
  2. Depois d’esta palavra está riscado fazer.