arroyd[o][1]. /[Fl. 40B-v.] As lebres ouuerom gramde temor, e compeçarom de fugir. E fogimdo chegarom a hũu lago d’augua omde estauam muytas rrãas; e ssemtindo as rrãas que as lebres fugiam, ouueram gram temor e começarom todas de fugir e deytarom sse na augua.
Hũa d’estas lebres, veendo fugir as rrãas ssem porquê, disse:
— Nós fugimos em vaão! ca tall he o nosso medo como[2] o medo d’estas rrãas que fogem por nada. Estemos quedas, e ajamos boa esperança[3] e vejamos que cousa nos fez fugir.
E assy estando, viram que fogiam ssem porquê.
Per este emxemplo este doutor nos amoestra que, por nhũa gram tribulaçom que o homem aja, nom deue perder a esperança, porque a esperança he aquella que mantem o homem que e[stá] em [tr]ibulaçom: e aquell que perde a esperança, ligeyramente sse despera. Ajmda diz que muytos homẽes forom no mundo em priguo de morte, e ouuerom esperança d’escapar, e escaparom.
[Fl. 41-r.][P]om emxemplo este poeta e diz que hũa cabra leixou sseu filho em ssua casa, e çarrou a porta e mandou-lhe que sse nom partisse nem abrisse a porta a nhũa[4] persoa[5] ataa que ella viesse. E como lhe disse esto, foy-sse a cabra a paçer.
E hũu pouco estando, veo o[6] lobo e bateo aa porta, e começou de falar como sse fosse cabra, dizemdo que lhe abrisse a porta.
A cabrita disse:
— Saae-te d’aqui, falso ladrom, e nom te achegues aqui! [ca tu nom][7] es a mynha madre, mas falsamemte tu arremedas a uoz d’ella; e pella fendedura da porta vejo eu bem que tu es llobo.
E o lobo vemdo que o conhoçia, foy-sse sseu caminho.
- ↑ Tudo o que nesta fabula ponho entre colchetes falta no ms., por este estar roto.
- ↑ A photographia apresenta aqui um traço, que corresponde a uma dobra do ms., de modo que adeante de com só se vê parte da lettra seguinte, que creio ser o.
- ↑ No ms. espança, sem traço no p. Nos logares seguintes, ora com traço, ora por extenso.
- ↑ Leia-se nehũa ou nẽhũa.
- ↑ No ms. psoa, tendo esquecido de cortar a haste do p.
- ↑ Depois de e ha um traço sem significação.
- ↑ Onde ponho colchetes, está roto o ms.