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FABULARIO PORTUGUÊS
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di[sse] que nom lh’o queria dar e que o comfesso qu[e] /[Fl. 42-v.][1] ell fezera nom era valioso, porque o fezera com medo do lobo: e as cousas que com medo prometem[2] nom ssom valiosas, segundo dereyto da ley. E veendo o juiz a alegaçom, ssoube a uerdade, e assolueo o cabram do comfeso que fezera per medo.




Per este emxemplo este poeta nos amostra que nom deuemos cõostramger[3] nhũa[4] perssoa que digua nhũa[5] cousa per força nem per medo, porque a confissom fecta per medo e temor nom vall segumdo derejto[6] canonico e çiuell, nem ssegumdo Deus, o quall he sabedor de todalas cousas.


LXI. [O vaqueiro que combate por seu senhor]

[Fl. 43-r.][C]omta o doutor este emxemplo e diz que hũu caualeyro, familiar d’hũu rrey, conhoçia hũu homem velho que nom auia filhos e era ja muyto velho e desapossado e era muyto rrico, ca ell ssempre fora e era ofiçiall d’el-rrey, que avia curado sseus caualeyros.

Este caualeyro lhe avia grande emveja, porque era rrico[7], e buscava cada dia maneyra em como lhe tomasse o que tijnha; e ffoy-sse a el-rrey e acusou-ho dizemdo que quanto ell tijnha, todo furtara a el-rrey, e que de furto era assy rrico, dizendo d’ell muyto mal, e que era ladram e homem de maa condiçom: e que esto lhe queria prouar em hũu campo com a espada na mãao.

El-rrey fez chamar o velho, e mandou-lhe que sse escusasse ou emtrasse em campo com ell; e sse com ell nom sse estreuesse de combater, que buscasse outrem que sse com ell combatesse em sseu nome.

O caualeyro era muy valemte em armas. E o velho rreçeaua de sse combater com elle, ca o caualeyro era muy mançebo, e elle era muy uelho e muy desapossado: e amdaua rrogando paremte[s e a]mygos[8] a que ell ja fezera muytas boas obras, e nom podia achar quem quy[se]sse[9] tomar a avemtura por ell, ca sse temiam do caualeyro. Este velho sse querelaua e dizia:

  1. Repete-se que no começo da pagina.
  2. Ou falta se («que com medo se prometem»), ou prometem, por estar no plural, exprime aqui por si só a impersonalidade (Não se póde lêr prometemos.
  3. É difficil decidir se no ms. está cõestramger ou como escrevo.
  4. Leia-se nhehũa ou nẽ hũa.
  5. Leia-se nhehũa ou nẽ hũa.
  6. No ms. djto com til sobre o j (que não tem ponto). Mas supra, por extenso, dereyto.
  7. O sujeito grammatical é o velho.
  8. Onde ponho colchetes o ms. está roto.
  9. No ms. lê-se por engano quysse.