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rosos: II, 28; XI, 2, 12; XIX, 23; XXIII, 30, 39; XXV, 16; XXVII, 27, 30; XXX, 18; XL, 3; XLVI, 5; L, 18; LVI, 11, 14; LXII, 20; e no plural (boos): XXVI, 20; XXVII, 27; XXXVI, 14; LXII, 20. Tal abundancia de exemplos mostra que em boo não falta til, e que pelo contrário essa fórma era viva, como hoje o é ainda no povo, simplificada em (Beira-Alta); em gallego mod. . Exemplos de bõo, escrito por vezes boom e bom: XXV, 2; IV, 20; VII, 21, 22; XIV, 4; XXVII, 26. Ha uma fabula, XXVII, em que, como se vê, concorrem boo (duas vezes), boos e bom; ha outra, XXV, em que concorrem bõo e boo. Os oo são etymologicos: lat. bo(n)u-. lat. *bono- = bonu-. O feminino é sempre boa, que corresponde a boo: II, 13; III, 18; XXVII, 30; no pl. (boas): XXVII, 29[1].

braadar, bradar: II, 9; XIII, 12; XVII, 11. Mas bradar: XVI, 8 (bradaua), sem ser em fim de linha; provavelmente escapou um a. — Exemplos de braadar empregado transitivamente: XLVI, 9 - 10 («braadar altas vozes»); LII, 8 («eu b[raa]darey[2] altas vozes»). — Em braadar os aa são etymologicos: cfr. hesp. baladrar, onde se mantem o -l- etymologico que desappareceu em português.

branchete, certo cãozinho: XVII, 1 (bramchete), 2 (id.), 8 (id.). — Esta palavra, que não encontro archivada ainda nos nossos lexicos, é sem duvida a mesma que a hespanhola blanchete, a que os diccionarios dão a significação de «perrillo ó gato blanquecinos»[3], «perro faldero»[4][5]. O ch mostra que ella veio do francês (blanchet) para as lingoas da Peninsula.

brasfamar, blasphemar: XXXIII, 10.

burgês, burgues: XXXVI, 1, 6, 7. — Como a palavra se repete tres vezes, é mais que provavel que não haja erro de g por gu,

  1. Se na lingua actual existe (pop.) e boa, que correspondem a boo, a par de bom e bõa (pop.), que correspondem a bõo, não admira que no ms. se encontre boo conjuntamente com bõo. Hoje é ainda frequente em Lisboa ouvir á mesma pessoa (nas proprias classes que tem certa educação) bõa a par de boa. E quantas incertezas não temos na orthographia, correspondentes ás incertezas da pronúncia? Por ex.: noite e noute; Doiro e Douro. Nas nasaes citarei lage (fórma usual) a par de lagem (que tambem tem algum uso,e que é mesmo dada pelo Dicc. de Rimas de E. de Castilho e por outros). Igualmente é frequente em Lisboa, até na gente culta, menza (que porém não se escreve) concomitantemente com mesa.
  2. Restitui b[raa]darey, com dois aa, e não com um, porque o espaço os exige.
  3. Tradução do castelhano: cãozinho ou gato esbranquiçados
  4. Tradução do castelhano: cão fraldiqueiro
  5. Dicc. de la Leng. Cast. da Acad. Hesp., s. v.; Nuevo diccion. de R. Barcia, s. v.