cera e picado de traças, e os santos, retratados em litografias baratas, com legendas místicas por baixo, cruzavam os olhos brancos por cima do cadáver, numa desolação. Às cabeceiras da essa improvisada três círios queimavam os longos pavios resinosos, pingando lágrimas amarelas sobre os tocheiros de pau preto, colocados no chão. A luz baça das velas perdia-se na claridade decrescente da tarde. As três chamas, privadas de toda a irradiação, pareciam três brasas oscilando no ar. Um cheiro enjoativo de cera e alfazema enchia a casa e vinha até à rua. Pelas janelas semicerradas entrava a viração da tarde. Lá dentro, nos aposentos da família, ouvia-se um soluçar contínuo e monótono, mas moderado e tímido. Num quintal vizinho cantava um galo melancólico. Na sala fizera-se um silêncio quando Macário entrara. Depois um murmúrio começou, acentuou-se e se transformou em conversação cortada, a trechos, em voz baixa, como para não perturbar a solenidade triste da ocasião.