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São desvios para uma vontade falsa, das maiores fôrças sociais, que são as verdades humanas. Um povo dobrado à vontade nacional exclusivista é qualquer cousa como um homem que, teimando em não reconhecer a existência dos seus concidadãos, permanentemente a êles recorresse para viver. Nenhuma nação pode viver sem cultura e as formas de cultura são tôdas hoje de carácter universaista a Sciência, a Filosofia, a Arte, a Técnica, e até as Religiões.

Estas evoluiram de cultos nacionais para doutrinas soteriológicas universalistas, tendo até as que ainda se quisessem fechar em círculos étnicos ou nacionais de universalizar a sua acção de pensamento e sentimento, ainda que não seja mais do que pela vida polémica a que são obrigadas pela existência das religiões universalistas dominantes. Essa a razão séria de impossibilidade de imperialismos conquistadores, pois a sua vitória seria a própria derrota da cultura, que é indubitávelmente a maior fôrça social.

Só são fortes as nações cultas; e aquelas que, tendo atingido a cultura, a desviarem para o exclusivismo, para o encerramento nacionalista, correrão o risco de perderem essa mesma cultura. A força social é a cultura. Nada é o atleta estúpdo perante o homem inteligente; um elefante é abatido por um rapazito a quem a cultura tenha dado a confiança em si ou coragem e os instrumentos de exercício dessa confiança.