Castigo foi que o moço mereceo
Por se mostrar esquivo com aquella,
Qu’em viva pedra Juno converteo.
Ardia em fogo d’alma a vãa donzella,
Soffrendo hum duro peito; que a Narciso,
Quando ella mais se abraza, mais congela.
E quando a fraca Nympha mais de siso
Mostrava hum signal certo de firmeza,
Então se provocava o moço a riso.
Ja d’huma profundissima tristeza
A descora o rigor que a consumia.
Como diz desfavor mal com belleza!
O gelado pastor folgava e ria;
Mas vendo-a de seu gôsto andar contente,
Por não a contentar s’entristecia.
He tal o seu rigor, que não consente
Que seja o gôsto proprio festejado;
Antes disso se mostra descontente.
Mas o cego Cupido, d’affrontado,
Em vingança da fé que desprezou,
Fez que fosse de si mesmo enganado.
Casualmente hum dia se chegou
A beber n’huma fonte crystallina,
Que de si nova sêde lhe causou.
Vendo a sua figura peregrina
Que a fonte dentro em si representava,
Se perdeo por imagem tão divina.
Como ja, d’enlevado, não cuidava
Nos enganos que a sombra lhe fazia,
Vendo o formoso rosto, suspirava.
Por as avaras ágoas se metia;
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