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Por a salva, que he gôsto, tomarei
Coentro opposto ao meu contentamento.

Conhecimento firme nunca achei,
Que violetas são; e, quando o houvera,
Qual meu damno então fôra, bem o sei.

Oh quem, herva cidreira, oh quem pudera
Ver-vos aqui menor, pois sois victória,
Que de mi alcançou chamma severa!

Mas se quereis que tenha alguma glória,
Por galardão d’amar e ser sujeito,
Perderei de tormentos a memoria.

Porém, pois mo negais, de todo engeito
A palma, qu’he ventura; e na parreira,
Qu’he’sperança perdida, me deleito.

Entretanto co’a flor da laranjeira,
Qu’he desafio duro e arriscado,
Posso arguir da hora derradeira.

Ja não se quer deter o meu cuidado
Com a romãa descanso: a brevidade
Das maravilhas só tẽe desejado.

E vós, ovelhas minhas, sem piedade
Vos apartae de mi, se algum desejo
Tendes de ter do pasto mais vontade.

Se muita de me verdes em vós vejo,
Toda a minha de ver-vos hei perdido
Á força do poder d’amor sobejo.

Lograe do Tejo o placido ruido;
Sós lograe estas veigas florecidas:
Pois se perde o pastor vosso querido,

Não gosteis de com elle ser perdidas.