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A ausencia que do gôsto nos saltêa,
A perpétua saudade nos inclina.

Deixa pois tu, formosa Cytherêa,
Do gentil filho e neto de Cyniras
O pranto por a morte horrida e fêa.

E tu, dourado Apollo, que suspiras
Por o crespo Jacintho, moço charo,
Por quem a clara luz ao mundo tiras;

Vinde e chorae hum moço em tudo raro,
Não de ferino dente vulnerado,
Nem de risco sujeito a algum reparo:

Mas só de ferro imigo traspassado;
Que sem duvida incerta, ou frio medo,
A vida poz nas mãos de Marte irado.

Tambem tu, moço Idalio, assiste quedo;
Deixa de dar o venenoso mel
A beber por os olhos, triste e ledo.

Pois os formosos olhos de Miguel
Ja cobertos se vem do escuro manto
Da lei geral a todos mais cruel.

E vós, filhas de Thespis, que co’o canto
Podeis bem mitigar a dor immensa
Dos irmãos generosos e alto pranto;

Não consintais que fação larga offensa
Á grande integridade, a que se devem
Ágoas não só, do damno recompensa.

Que ja diante os olhos me descrevem,
Quando as bocas da Fama voadora
Ao patrio e claro Tejo as novas levem,

A profunda tristeza; qu’em hum’hora
Tal posse tomará dos altos peitos,