Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/199

200


Facil he a perda aqui da sepultura:
Diogenes prudente, e Theodoro
Pouco sentem do corpo essa jactura.

Assi formoso e inteiro, assi decoro
Adorna quem o tẽe, como o tomou,
Quando se ouvir o extremo som canoro.

Mas ai! qual terror subito occupou
O vosso claro peito, ó Portuguezes?
Qual pavido temor vos congelou?

Que lançadas, que golpes, que revézes
Vos fizerão fazer tamanha injúria
Aos fortes Lusitanicos arnezes?

Ou ja de Capitão sobeja incuria,
Ou fraqueza? Não: qu’elle sustentava
Com seu peito dos barbaros a furia.

Ou ja do ferreo cano a fôrça brava
Com estrondos que atroão mar e terra,
Os corações ardentes congelava?

Ah! quem vos fez que os impetos da guerra
Não sustentasseis com valor ousado,
Desprezando o temor que a vida encerra?

A vida por a Patria e por o Estado
Pondo nossos avós, a nós deixárão,
Em terra e mar, exemplo sublimado.

Elles a desprezar nos ensinárão
Todo temor. Pois como agora os netos
Subitamente assi degenerárão?

Não pódem, certo, não, viver quietos
Com feia infamia peitos generosos,
Ja em publicos lugares, ja em secretos.

Mortos d’Esparta os Héroes valerosos