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Que glórias immortaes houve, qu’isentas
Do veneno vulgar fossem, vivendo?
Pois mil exemplos deixo de Romanos,
E vós tambem sois hum dos Lusitanos.


EPISTOLA III.

Mui alto Rei, a quem os Ceos em sorte
Derão o nome augusto e sublimado
Daquelle Cavalleiro que na morte,
Por Christo, foi de settas mil passado;
Pois delle o fiel peito, casto e forte,
Co’o nome Imperial tendes tomado,
Tomae tambem a setta veneranda
Que a vós o Successor de Pedro manda.

Ja por ordem do Ceo, que o consentio,
Tendes o braço seu, reliquia chara,
Defensor contra o gladio que ferio
O povo que David contar mandára.
No qual, pois tudo em vós se permittio,
Presagio temos, e esperança clara,
Que sereis braço forte e soberano
Contra o soberbo gladio Mauritano.

E o que hum presagio tal agora encerra,
Nos faz ter por mais certo e verdadeiro
A setta, que vos dá quem he na terra
Dos celestes thesouros Dispenseiro:
Que as vossas settas são na justa guerra
Agudas, e entrarão por derradeiro