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Fostes de tal belleza navegadas?
Nunca, despois que a terra descobristes,
A tal frota por vós caminho abristes.

Com vento sempre igual, com mar bonança,
Sem perigos alguns, sem algum pejo,
Ceyla forão tomar, porto de França,
Onde pouca demora fazer vejo.
O coração da virgem não descança,
Saudosa do fim de seu desejo;
Manda que levem ferro, soltem linho
Que leve por o mar o negro pinho.

O vento nova posse vai tomando
Das virgens que lhe são encommendadas:
Com tal prosperidade vão voando,
Que ja deixão atraz ondas salgadas:
Ja nas doces do Rheno estão entrando,
Onde tẽe suas vidas limitadas:
Huma cidade vem á lingua da ágoa,
Que de vê-las morrer não teve mágoa.

Ah Colonia cruel, que não t’encobres
A tão formosos olhos, que seguros
As altas tôrres vião que descobres,
Lustrosos edificios, fortes muros!
Permitte o largo Ceo que fama cobres
De ser tão dura mãe de peitos duros?
Duros peitos, que a tantos, limpos de êrro
Virão abrir sem dor com impio ferro!

Estando neste porto a bella Armada
Tomando o necessario mantimento,
Para poder seguir sua jornada,
E dar terceira vez o treu ao vento;