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MOÇO.


A volta, Senhores, he mui funda; e parece-me, Senhores, que nem de mergulho
a entenderão. E por isso mandem assoar os engenhos, e metão mais huma
sardinha no entendimento; e póde ser que com esta servilha lhe calçará
melhor: e todavia palra assi:

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Vossos olhos tão daninhos
Me tratárão de feição,
Que não ha em meu coração
Em que atem dous reis de cominhos.
Meu bem anda sem focinhos
Por vós morto,
Pezar de meu avô torto.

MARTIM.

Ora bem: que tẽe de ver os cominhos com o teu coração?

MOÇO.

Pois, Senhores, coração, bofes, baço e toda a outra mais cabedella, não se podem comer senão com cominhos: e mais, Senhores, minha dama era tendeira; e este he o verdadeiro entendimento.

MARTIM.

E aquella regra que diz, Meu bem anda sem focinhos, me dá tu a entender; que ella não dá nada de si.

MOÇO.

Nunca vossas mercês ouvirão dizer: Meu bem e meu mal lutárão hum dia; meu bem era tal, que meu mal o vencia? Pois desta luta foi tamanha a quéda que meu bem deo entre humas pedras, que quebrou os focinhos; e por ficarem tão esfarrapados, que lhe </poem>