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AURELIO.

Maravilhas tão estranhas,
Que me treme o coração.
Porque aquelle homem, que assi
Tantos enganos teceo,
Como era cousa do Ceo,
Tanto qu’eu appareci,
Logo desappareceo.
E em desapparecendo
Com ruido grande e horrendo,
Toda a casa allumiou;
E de arte nos inflammou,
Que nos vimos acolhendo
Do raio que nos cegou.
Estes acontecimentos
Não são de humana pessoa.
Vós ouvis a voz que soa?
Escutae, estae attentos;
Vejamos o que pregôa.

JUPITER, de dentro.

Amphitrião, qu’em teus dias
Vês tamanhas estranhezas,
Não t’espantem phantasias,
Que ás vezes grandes tristezas
Parem grandes alegrias.
Jupiter sou manifesto
Nas obras de admiração,
Que por mi causadas são:
Quiz-me vestir em teu gesto,
Por honrar tua geração.
Tua mulher parirá