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VILARDO.

                Senhor, sim.
(Se m’ella não traz a mim.
Vejo-lh’eu ruim maneira.)

FILODEMO.

Acabae, villão ruim.
Que moço para servir
Quem tẽe as tristezas minhas!
Quem pudesse assi dormir!

VILARDO.

Senhor, nestas manhãzinhas
Não ha hi senão cahir:
Por demais he trabalhar
Qu’este somno se me ausente.

FILODEMO.

Porque?

VILARDO.

       Porque ha d’assentar
Que se não for com pão quente,
Não ha de desaferrar.

FILODEMO.

Ora hi pelo que vos mando,
Villão feito de fermento. Sahe Vilardo.
Triste do que vive amando
Sem ter outro mantimento,
Qu’estar só phantasiando!
Só hũa cousa me desculpa
Deste cuidado que sigo,
Ser de tamanho perigo,
Que cuido que a mesma culpa
Me fica sendo castigo.