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SOLINA.

Pois dizei a vosso amigo
Que não gaste tempo em vão,
Nem queira amores comigo.
Porque eu tenho parentes,
Que me podem bem casar;
E mais que não quero andar
Agora em boca de gentes
A quem s’elle vai gabar.

FILODEMO.

Senhora, mal conheceis
O que vos quer Duriano:
Sabei-o, se o não sabeis,
Qu’em sua alma sente o dano
Do pouco que lhe quereis;
E que outra cousa não quer,
Que ter-vos sempre servida.

SOLINA.

Pola sua negra vida,
Isso havia eu bem mister.

FILODEMO.

Vós sois desagradecida!

SOLINA.

Si, que tudo são enganos
Em tudo quanto fallais.

FILODEMO.

Não quero que me creais:
Crede o tempo; que ha dous anos
Que vos serve, e inda mais.

SOLINA.

Senhor, bem sei que m’engano;