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Até que nella tomasse
Do que lhe quero vingança!...

SOLINA.

(Comigo sonha por certo.
Ora quero-me mostrar,
Assi como por acêrto:
Chegar-me-hei mais ao perto,
Por ver se me quer fallar.)
Sempre esta casa ha d’estar
Acompanhada de gente,
Que não possa homem passar!

DURIANO.

Á traição vindes tomar
Quem ja feridas não sente?

SOLINA.

Logo me a mi parecia
Que era elle o que passeava.

DURIANO.

E eu mal adivinhava
Que me viesse este dia,
Que ha tantos que desejava.
Se huns olhos por vos servir,
Com o amor que vos conquista,
Se atrevêrão a subir
Os muros da vossa vista,
Que culpa tẽe quem vos vir?
E se esta minha affeição,
Que vos serve de giolhos,
Não fez êrro na tenção,
Tomae vingança nos olhos,
E deixae o coração.