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SOLINA.

Ora agora me vem riso.
Assi que vós sois, Senhor,
De siso meu servidor?

DURIANO.

De siso não, porque o siso
Me tẽe tirado o amor.
Porque o amor, se attentais,
N’hum tão verdadeiro amante
Não deixa siso bastante;
Senão se siso chamais
A doudice tão galante.

SOLINA.

Como Deos está nos Ceos,
Que se he verdade o que temo,
Que fez isto Filodemo.

DURIANO.

Mas fê-lo o démo; que Deos
Não faz mal tanto em extremo.

SOLINA.

Bem. Vós, Senhor Duriano,
Porque zombareis de mim?

DURIANO.

Eu zombo?

SOLINA.

                Eu não m’ engano.

DURIANO.

S’ eu zombo, inda em meu dano
Vejais vós mui cedo a fim.
Mas vós, Senhora Solina,
Porque me querereis mal?