Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/427

429

Não a veja: vá-se d’hi.
Ei-la-ahi.

DIONYSA.

            Cuja será?

SOLINA.

Não sei certo cuja he.

DIONYSA.

Si; sabeis.

SOLINA.

            Não sei, bofé.

DIONYSA.

Ora a carta mo dirá.

SOLINA.

Pois leia Vossa Mercê.

Abre Dionysa a carta, e lê-a.

Se para merecer minha pena me não falta mais que viver contente della, ja logo ma podeis consentir; pois que de nenhuma outra cousa vivo triste, senão por não ser para tão doce tristeza. Se tendes por offensa commetter tamanha ousadia; por maior a devieis ter, se a não commettesse; que amor acostumado he fazer os extremos á medida das affeições, e as affeições á medida da causa dellas. Pois logo, nem o meu amor póde ser pouco, nem fazer menos: se este não bastar para consentirdes em meu pensamento, baste para me dardes o que pelo ter mereço; e senão muitas graças ao Amor, que me soube dar hum cuidado, que com tê-lo se paga o trabalho de soffrê-lo.

SOLINA.

Quanta parvoice diz!