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DIONYSA.

Ora muito boa está!
Como vós, mana, sois má!
Não sejais vós tão biliz;
Que bem vos entendo ja.
Cuja he?

SOLINA.

          E eu que sei?

DIONYSA.

Pois quem o sabe?

SOLINA.


                     O
démo.

DIONYSA.

Certo que he de quem temo;
Que os ditos que nella achei
São todos de Filodemo.
Este homem, que atrevimento
He este que foi tomar?
Qual será seu fundamento?
Que mil vezes me faz dar
Mil voltas ao pensamento.
Não entendo delle nada.
Mas inda qu’isto he assi,
Disso que delle entendi,
Me sinto tão alterada,
Que me arreceio de mi.
Eu inda agora não creio
Que he verdade este amor;
Mas praza a Deos, se assi for,
Que inda este meu arreceio
Se não converta em temor.