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SOLINA.

Ja vós, ja sêdes,
Peixes, nas redes.
Senhora, quem mais confia,
Mais asinha a cahir vem:
Natural he o querer bem;
Que o amor n’alma se cria,
Sem o sentir quem o tem.
Filodemo, no que ouvi,
Tẽe-lhe sobeja affeição;
E postoque o creia assi,
Ou eu sonhei, ou ouvi.
Que era d’alta geração.
Logo na phisionomia,
Nas manhas, artes e geito,
Mostra mui grande respeito:
Nem tão alta phantasia
Não se põe em baixo peito.

DIONYSA.

Tudo isso cuido, e vi
Mil vezes miudamente;
Mas estas mostras assi
São desculpas para mi,
E não para toda a gente.

SOLINA.

O seu moço vejo vir
A nós, seu passo contado:
Este he muito para ouvir,
Que diz que me quer servir
D’amores esperdiçado.