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La mar en medio y tierras, he dejado
Á cuanto bien cuitado yo tenia:
Cuan vano imaginar, cuan claro engaño
Es darme yo á entender que con partirme
De mí se ha de partir un mal tamaño!

Quão mal está no caso quem cuida que a mudança do lugar muda a dor do sentimento! E senão, diga-o quien dijo que la ausencia causa olvido. Porque emfim la tierra queda, e o mais a alma acompanha. Ao alvo destes cuidados jogão meus pensamentos á barreira, tendo-me ja, pelo costume, tão contente de triste, que triste me faria ser contente; porque o longo uso dos annos se converte em natureza. Pois o que he para mor mal, tenho eu para mor bem. Aindaque, para viver no mundo, me debruo d’outro panno, por não parecer coruja entre pardaes, fazendo-me hum para ser outro, sendo outro para ser hum; mas a dor dissimulada dara seu fruito; que a tristeza no coração, he como a traça no panno.

E por tão triste me tenho,
Que se sentisse alegria,
De triste não viviria.
Porque a tal sorte vim,
Que não vejo bem algum
Em quanto vejo,
Que não nasceo para mim;
E por não sentir nenhum,
Nenhum desejo.

Porque cousas impossiveis, he melhor esquecê-las que deseja-las. E por isso

Só, tristeza, vos queria,
Pois minha ventura quer