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De ti levão de passagem
Ser bem ou mal recebidas
Na outra vida.

Á fuera, á fuera Rodrigo, que eu se muito for por este caminho, darei em enfadonho, de que me parece me não livrará, nem ainda privilegio de Cidadão do Porto. E pois me vendo a vós, soffrei-me com meus encargos. E porque não digais que sou herege de amor, e que lhe não sei orações, vêdes, vai huma: Di, Juan, de qué murió Blas? com hum pé á Portugueza, e outro á Castelhana: e não vos espanteis da libré, que eu em qualquer palmo desta materia perco o norte. E os supplicantes dizem assi:

Di, Juan, de que murió Blas,
Tan niño y tan mal logrado?
Gil, murió de desamado.

Dime, Juan, quien se engañó,
Que con amor se engañase,
Pensando que el bien hallase,
Adonde el mal cierto halló?
Despues que el engaño vió,
Que hizo desenganado?
Gil, murió de desamado.

Travou com elle pendença,
Em ter razão confiado;
Mas Amor, como he letrado,
Houve contr’elle a sentença:
E co’aquella differença,
Disse entre si o coitado:
Gil, morreo de desamado.

Quem tẽe razão tão cerrada,
Que não saiba, sendo rudo
E sem respeito,