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MOTE ALHEIO.

Ha hum bem, que chega e foge;
E chama-se este bem tal,
Ter bem para sentir mal.

Volta.

Quem viveo sempre n’hum ser,
Inda que seja em pobreza,
Não vio o bem da riqueza,
Nem o mal d’empobrecer:
Não ganhou para perder;
Mas ganhou com vida igual
Não ter bem, nem sentir mal.




A huma Dama, que lhe virou o rosto.


Mote.

Olhos, não vos mereci
Que tenhais tal condição,
Tão liberaes para o chão,
Tão irosos para mi.

Volta.

Baixos e honestos andais,
Por vos negardes a quem
Não quer mais que aquelle bem,
Que vós no chão espalhais?
Se pouco vos mereci,
Não m’estimeis mais que o chão,
A quem vós o galardão
Dais, e mo negais a mi.