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Porque no caso d’amar,
São mulheres no matar,
E meninas no querer.
Quem em seus olhos se crer,
Cem mil graças nelles vê;
Vê-las sim, mas não ter fé.

Amostrão-vos n’hum momento
Favores assi a mólhos;
Mas na mudança dos olhos
Se lhe muda o pensamento.
Em nada ja tẽe assento,
E o que mais nelles se vê
He formosura sem fé.


LOUVANDO E DESLOUVANDO UMA DAMA.
Cantiga Velha.

Sois formosa, e tudo tendes,
Senão que tendes os olhos verdes,

Voltas.

Ninguem vos póde tirar
Serdes tão bem assombrada;
Mas heis-me de perdoar,
Que os olhos não valem nada.
Fostes mal aconselhada
Em querer que fossem verdes:
Trabalhae de os esconderdes.

A vossa testa he jardim,
Onde Amor se desenfada;
He tão branca e bem talhada,
Que parece de marfim.