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Que quem promette, se mente,
O que perde não o sente.

Tudo vos consentiria
Quanto quizesseis fazer,
Se este vosso prometter
Fosse por me ter hum dia.
Todo então me desfaria
Com gôsto; e vós de contente,
Zombarieis de quem mente.

Mas pois folgais de mentir,
Promettendo de me ver,
Eu vos deixo o prometter,
Deixae-me vós o servir:
Haveis então de sentir
Quanto a minha vida sente
O servir a quem lhe mente.

Catharina me mentio
Muitas vezes, sem ter lei,
E todas lhe perdoei
Por huma só que cumprio.
Se como me consentio
Fallar-lhe, o mais me consente,
Nunca mais direi que mente.


MOTE.

A alma, qu’está offrecida
A tudo, nada lhe he forte;
Assi passa o bem da vida,
Como passa o mal da morte.