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facto, como porque o poeta em seus escritos o publicou ao mundo inteiro; e se o motivo delle tivesse sido esta satyra, com a pena constára juntamente a culpa. Mas nem Manoel Correa, nem Pedro Mariz, que para desculpar a Barreto não poupou a Camões, lhe assinárão esta causa; prova evidente de que não tiverão della noticia alguma, porque, se a tivessem, não andárão inventando outras. Domingos Fernandes descobrio um fragmento della, com duas cartas em prosa, que ajuntou na 3.ª edição das Rimas em 1607; e logo Manoel Severim, por achar sem fundamento as causas que se davão deste desterro, o attribuio a esta; que tão innocente foi a vida de Camões, que com ter tantos inimigos, nenhum delles lhe pôde descobrir crime ou falta, sôbre que recahisse um tal castigo. Mas além desta razão, que nos parece mui ponderosa, para acreditarmos que esta Satyra não havia sido publicada, nem para isso tinha sido escrita, temos ainda outra, e he, que na carta 2.ª, a que ella andava unida, começa Luis de Camões por pedir ao amigo a quem a dirigio, o mais inviolavel segredo, dizendo: Esta vai com a candeia na mão morrer nas de V. M.; e se dahí passar seja em cinzas etc. donde se deve suppor que vai a fazer alguma revelação de alta importancia; e em todo o seu conteudo não apparece cousa, que se não podesse dizer em publico: por onde nos inclinâmos a crer que nella vinha incluso algum outro papel, que fazia necessaria aquella recommendação; e não podia ser senão a Satyra. Ajuda esta conjectura a grande probabilidade que ha, de serem uma e outra escritas na mesma occasião; porque{XLIII}