inda ante á convulsão de morte de Turno banhado de sangue, passão visões bellas como Dido a suicida, e Lavinia.
Lucano é sim um poeta ao geito de Meonio. O tempo d’elle era uma epoca singular. A vóz fatídica do deos Pan clamára nas tênebras do mar Siculo « os deoses morrerão ! » — e a geração descrida dos velhos pagãos se mergulhava nas ondas lethargicas da saturnal bacchante.
Em meio d’aquella era onde o ar abafava, e as nuvens gemebundas de procellarias se abatião negras nas gaveas da náo Romana — na metaphora Horaciana — como ante o aproximar dos bafos da tormenta, havia um ardor, de volcão preste a romper-se, um vapor vertiginoso de crepúsculo de verão que travava do espirito. Lucano, em sua alma afervorada de um enthusiasmo antigo, naquella imaginação de poeta cuja carreira de sonhos gigantescos ia terminar no fado do complice dos Pisões — aquelle soberbo vulto de moço que assombro das eras de loucura ourada em lenocínios de hyena, n’aquelle queimar deliroso que accendera no coração de Nero todas ancias de um tigre que sacia-se em vingança no seo carito sombrio de alegrias freneticas ante Roma lavrada de chammas — aquella fronte inda altaneira no livor do suicidio — morto pela liberdade como Catão — a não poder morrer pela gloria como Junio Bruto!
O Pantheon desabava no mar sanguento das proscrip-