Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/173

querer passar às minas das esmeraldas, lhe mandou pedir o socorro, que precisava de pólvora e chumbo, e dos mais instrumentos de ferro: repugnou o Borba, a pretexto da espera em que estava de seu sogro Fernão Dias Paes; e querendo os que acompanhavam ao Fidalgo ir à força despojar o Borba do que pediam, pacificou D. Rodrigo este primeiro ímpeto, tomando sobre si a consecução do negócio por meios menos arriscados.

Desordenou a imprudência de um ameaço toda a felicidade do empenho; e ainda que sem mandato expresso do Borba, foi morto D. Rodrigo nessa ocasião por uns pajens, ou bastardos, que viviam agregados a ele: a esta morte se seguiu salvar-se engenhosamente o Borba, afetando a repentina chegada de Fernão Dias Paes; e em conseqüência da fugida, em que para logo se puseram os Paulistas acima nomeados, foram eles os primeiros que se entranharam pelo Rio de São Francisco, e povoaram e encheram de gados as suas margens, de que hoje se sustenta o grande corpo de Minas Gerais; nem mais quiseram voltar para a Pátria, envergonhados do engano em que haviam caído.

Temeroso o Borba de que o buscassem as justiças, e que sobre a sua prisão fizesse El-Rei as maiores diligências, se meteu aos sertões do Rio Doce com alguns Índios domésticos da sua comitiva: aí viveu vários anos respeitado por Cacique, sem mais lei, ou civilidade, que aquela que podia permitir uma comunicação entre bárbaros.

Estimulado contudo dos remorsos da consciência, cuidou em mandar dous Índios práticos a São