Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/177

por ser Governador das Minas e, se tivesse letras, se podia dizer que trazia em lembrança a máxima de César - Si violandum est jus, regnandi gratia violandum est.

Este projeto lhe desordenava a serenidade do ânimo, e o punha na consternação de dissimular os insultos daqueles a quem era devedor do mesmo lugar que ocupava: sobre este artigo é que o Autor o acusa nesta obra; sendo certo que a obediência aos Soberanos se deve tributar sem algum rebuço, e que nada tão sagradamente deve respeitar um fiel Vassalo.
Atormentavam os ouvidos de D. Fernando Martins de Mascarenhas os tumultos e desordens em que estavam as Minas, e querendo pessoalmente sossegá-las, marchou para elas desde o Rio de janeiro em o mês de junho de 1710. Chegou ao Rio das Mortes com o intento de passar ao Ouro Preto, aonde residiam principalmente os Chefes dos levantados: ofereceram-se-lhe alguns Paulistas e filhos de Portugal mais bem intencionados para o acompanharem nesta diligência; ele porém não consentiu no obséquio, por evitar assim algum ruído maior entre os sublevados; não cessaram contudo eles de fazer espalhar a notícia de que D. Fernando trazia cargas de correntes e outros instrumentos de ferro para punir aos cúmplices do levantamento e conspiração contra os Paulistas.

Derramada esta voz pelas Gerais, se dispôs Manuel Nunes Viana a disputar-lhe a entrada; armou então de política e cortejo um grande número de homens de cavalo, e repartiu ordens por todos os distritos circonvizinhos