Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/210

Em socavar a terra, em diligência
Do metal de que têm verde experiência.

Tinha Pegado adiantado o passo
Algum tanto dos mais, e o corpo lasso
Junto a um lago, que sobre uma campina
Se espraia e quebra as ondas, brando inclina,
Procurando em um tronco em parte encosto
Ao ombro, e alívio à cabeça, e rosto.
Estende-se na areia e reclinado
Se vê apenas, quando (oh! inesperado
Prodígio, que o surprende!) eis que mover-se
Pouco a pouco se admira, ora estender-se,
Ora encurvar-se o formidável tronco.
Levanta-se assustado e logo um ronco
Ouve medonho, que de todo o rende;
A causa do prodígio não entende,
Não pensa, não discorre o bom Pegado;
Grita aos índios atônito, pasmado,
E o tronco então com rapto mais furioso
Se arroja desde a praia e busca ansioso
Sepultar-se no lago, o seio abrindo
Das águas, que co'a cauda vai ferindo.
Não de outra sorte sobre os grossos mares,
Que do Antártico Céu cobrem os ares,
De mergulho se vê buscar a areia
O pardo e negro monstro da baleia,
Quando do arpão do pescador ferida
Tinge as ondas de sangue e, submergida,
Ao fundo leva a barbatana dura.

Vêm os índios chegando, e entre a escura
Sombra do lago inda estão vendo o rasto
Da fera, que conhecem; tanto ao pasto
Da presa que avistou Leão não corre,