Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/258

Que a corrupção do tempo em vão consome,
De bálsamo guardando inda a lembrança.
Este, tão destro em sacudir a lança,
Como em matar às mãos o tigre ousado,
Da formosa Elpinira namorado,
E seguro no cetro que mantinha
De trinta aldeias que a seu mando tinha,
A demandava esposa: disputava
Argante um tal amor; a grossa aljava
Dos ombros lhe pendia, e sempre em guerra
Fumar fazia a ensangüentada terra.
Elpinira, que causa se conhece
De tanto estrago, entre ambos se oferece
A dar a mão ao que a ganhasse em sorte
(Por que caminhos não buscava a morte!).
Convêm os dois rivais, e o pacto aceito,
Um dos dias do ano têm eleito,
Em que o seu Paraceve festejavam.
Brancas e negras pedras ajuntavam
Em uma concha e, em roda juntos todos,
Ao grande ato concorrem; vários modos
Inventam já de baile, jogo e dança,
Coroando cada um sua esperança.
Preside às sortes o bom velho Alpino,
Pai de Elpinira e Rei: vem o ferino
Argante, pés e mãos tendo cercado
De verdes penas, onde amor firmado
Traz a esperança da vitória; a frente
Blázimo adorna de um laurel florente,
Que tecem muitas rosas, misturadas
De suavíssimo cheiro; estão sentadas
Várias índias, cercando em meio a bela
Elpinira; orna a testa uma capela
De rosas, e folhetas pendem de ouro