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ORIGEM DAS ESPÉCIES

garam a aclimatar-se num país qualquer foram ordinàriamente muito próximas das plantas indígenas; não se pensa ordinàriamente, com efeito, que estas últimas foram criadas especialmente para o país que habitam e adaptadas às suas condições? Poder-se-ia também atender, talvez, a que as plantas aclimatadas pertenciam a quaisquer grupos mais especialmente adaptados a certos pontos da sua nova pátria. Ora, o caso é muito diferente, e Alphonse Candolle fez observar com razão, na sua grande e admirável obra, que as floras, em seguida à sua aclimatação, aumentam muito mais em novos géneros que em novas espécies, proporcionalmente ao número de géneros e de espécies indígenas. Para dar um só exemplo, na última edição do Manual da Flora da parte Setentrional dos Estados Unidos, pelo Dr. Asa Gray, o autor indica 260 plantas aclimatadas, que pertencem a 162 géneros. Isto basta para provar que estas plantas aclimatadas têm uma natureza muito diversa. Elas diferem, além disso, extraordinàriamente das plantas indígenas; porque, nestes 162 géneros aclimatados, não há menos de 100 que não sejam indígenas dos Estados Unidos; uma adição proporcional considerável foi então feita aos géneros que habitam hoje este país.

Se considerarmos a natureza das plantas ou dos animais que, num país qualquer, têm lutado com vantagem com os habitantes indígenas e são assim aclimatados, podemos fazer uma ideia da forma como os habitantes indígenas deveriam modificar-se para prevalecer sobre os seus compatriotas. Podemos, pelo menos, concluir que a diversidade de estrutura, chegada ao ponto de constituir novas diferenças genéricas, lhes seria de um grande proveito.

As vantagens da diversidade de estrutura entre os habitantes da mesma região são análogas, numa palavra, às que apresenta a divisão fisiológica do trabalho nos órgãos do mesmo individuo, assunto tão admiràvelmente elucidado por Milne Edwards. Nenhum fisiólogo põe em dúvida que um estômago construído para digerir sòmente matérias vegetais, ou sòmente matérias animais, tire destas substâncias a maior soma de nutrição. Da mesma forma, na economia geral de um país qualquer, quanto mais as plantas e os animais oferecerem diversidades nítidas apropriando-as a diferentes modos de existência, tanto mais considerável é o número de indivíduos capazes de habitar este país. Um grupo de animais cujo organismo apresenta poucas diferenças pode dificilmente lutar com um grupo cujas diferenças são mais acentuadas. Poderia duvidar-se, por exemplo, que os marsupiais australianos, divididos em grupos que diferissem muito pouco uns dos outros, e que representam frouxa-