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ORIGEM DAS ESPÉCIES

produzido três formas: a10, f10 e m10, que, divergindo em caracteres durante gerações sucessivas, chegaram a diferir grandemente, mas talvez desigualmente umas das outras e da origem comum. Se supusermos que a soma das alterações entre cada linha horizontal do diagrama é excessivamente pequena, estas três formas serão apenas variedades bem definidas; mas temos sòmente que supor um maior número de gerações, ou uma modificação um pouco mais considerável em cada grau, para converter estas três formas em espécies duvidosas, ou em espécies bem definidas. O diagrama indica pois os graus por meio dos quais as pequenas diferenças, separando as variedades, se acumulam a ponto de formar as grandes diferenças que separam as espécies. Continuando a mesma marcha durante um maior número de gerações, o que indica o diagrama sob uma forma condensada e simplificada, obtemos oito espécies, a14 a m14, descendentes todas de A. É assim, creio eu, que as espécies se multiplicam e que os géneros se formam.

É provável que, num género rico, mais de uma espécie deva variar. Supus, no diagrama, que uma segunda espécie produziu, por uma marcha análoga, após dez mil gerações, quer duas variedades bem definidas, w10 e z10, quer duas espécies, segundo a soma de alterações que representem as linhas horizontais. Depois de catorze mil gerações, supõe-se que seis novas espécies, n14 a z14 foram produzidas. Num género qualquer, as espécies que já diferem muito umas das outras tendem ordinàriamente a produzir o maior número de descendentes modificados, porque são eles que têm mais probabilidades de se apoderar de novos lugares e muito diferentes na economia da natureza. Também escolhi no diagrama a espécie extrema A e uma outra espécie quase extrema I, como as que têm variado muito, e que têm produzido novas variedades e novas espécies. As outras nove espécies do nosso género primitivo, indicadas pelas letras maiúsculas, podem continuar, durante períodos mais ou menos longos, a transmitir aos descendentes os caracteres não modificados; isto é indicado no diagrama por linhas pontuadas que se prolongam mais ou menos longe.

Mas, durante a marcha das modificações, representadas no diagrama, um outro dos nossos princípios, o da extinção, deve ter gozado um papel importante. Como, em cada país bem provido de habitantes, a selecção natural actua necessàriamente, dando a uma forma, que faz o objecto da sua acção, algumas vantagens sobre outras formas na luta pela existência, produz-se uma tendência constante entre os descendentes aperfeiçoados de uma espécie qualquer para suplantar e exterminar os seus