NOTÍCIA HISTÓRICA
IX

Um pouco tímido nas suas conclusões, não acreditava que as espécies existentes estivessem em via de modificação; e, como seu filho diz, «é pois um problema reservado inteiramente ao futuro, supondo mesmo que o futuro pode tomar conta dele».

O Dr. W. C. Wells, em 1813, dirigiu à Sociedade Real uma memória sobre «uma mulher branca, cuja pele, em certos pontos, se assemelha à de um negro», memória que só foi publicada em 1818 com os seus famosos Two Essays upon Dew and Single Vision. Admite distintamente nesta memória o princípio da selecção natural, e foi a primeira vez que pùblicamente a sustentou; mas aplica-a apenas às raças humanas e a certos caracteres particulares. Depois de ter notado que os negros e os mulatos escapam a certas doenças tropicais, verifica primeiramente que todos os animais tendem a variar num certo grau, e secundariamente que os agricultores aperfeiçoam os animais domésticos pela selecção. Em seguida acrescenta que o que, neste último caso, é efectuado pela «arte», parece sê-lo igualmente, mas mais lentamente, pela natureza, para a produção de variedades humanas adaptadas às regiões que habitam; assim, em meio das variedades acidentais que puderam surgir entre alguns habitantes disseminados nas partes centrais da África, algumas eram sem dúvida mais aptas que outras para suportar as doenças do país. Esta raça devia, por conseguinte, multiplicar-se, enquanto que as outras desapareceriam, não só porque não podiam resistir às doenças, mas ainda porque lhes era impossível lutar contra os seus vigorosos vizinhos. Depois das minhas notas precedentes, não se pode duvidar que esta raça enérgica não fosse uma raça escura. Ora, persistindo sempre a mesma tendência para a formação de variedades, deviam surgir, no decorrer do tempo, raças cada vez mais negras; e a raça mais negra, sendo a mais própria para adaptar-se ao clima, devia tornar-se a raça predominante, senão a única, no país particular onde tomou origem. O autor estende em seguida estas mesmas considerações aos


    clusões de Buffon sobre o mesmo assunto. É curioso ver quanto o Dr. Erasmo Darwin, meu avô, na sua «Zoonomia» (vol. I, p. 500-510), publicada em 1794, antecedeu Lamarck nas suas ideias e seus erros. Segundo Isidore Geoffroy, Goethe partilhava completamente as mesmas ideias, como prova a introdução de uma obra escrita em 1794 e 1795, mas publicada muito mais tarde. Insistiu sobre este ponto («Goethe als Naturforscher», pelo Dr. Karl Meding, p. 34), que os naturalistas terão de procurar, por exemplo, como os bois e carneiros adquiriram os cornos, e não para que servem. É um caso bastante singular a aparição quase simultânea de opiniões semelhantes, porque se vê que Goethe na Alemanha, o Dr. Darwin na Inglaterra, e Geoffroy Saint-Hilaire em França, chegam, nos anos de 1794-1795 à mesma conclusão sobre a origem das espécies.