Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/188

162
ORIGEM DAS ESPÉCIES
  1. tempo nas zonas intermediárias; mas a duração destas espécies deve ser de ordinário muito curta. Estas variedades intermediárias, com efeito, pelas razões que já demos (razões tiradas principalmente do que nós sabemos sobre a distribuição actual de espécies muito próximas, ou espécies representativas, assim como a das variedades reconhecidas), existem nas zonas intermediárias em menor número do que as variedades que elas ligam entre si. Esta única causa bastaria para expor as variedades intermediárias a um extermínio acidental; mas é, além disso, quase certo que devem desaparecer ante as formas que ligam à medida que a acção da selecção natural se faz sentir mais; formas extremas, com efeito, compreendendo um maior número de indivíduos, apresentam em média mais variações e são, por consequência, mais sensíveis à acção da selecção natural, e mais dispostas a um melhoramento ulterior.

Enfim, considerando agora não um tempo dado, mas o tempo tomado no seu todo, deviam certamente existir, se a minha teoria é fundada, inumeráveis variedades intermediárias ligando intimamente umas às outras as espécies de um mesmo grupo; mas a marcha única da selecção natural, como temos feito tantas vezes lembrar, tende constantemente a eliminar as formas parentes e os fuzis intermediários. Poderia encontrar-se a prova da sua existência passada apenas nos restos fósseis que, como tentaremos demonstrá-lo no capítulo subsequente, apenas se conservam de uma maneira extremamente imperfeita e intermitente.

DA ORIGEM E DAS TRANSIÇÕES DOS SERES ORGANIZADOS TENDO UMA CONFORMAÇÃO E HÁBITOS PARTICULARES

Os adversários das ideias que proponho têm algumas vezes perguntado como sucede, por exemplo, que um animal carnívoro terrestre possa transformar-se num animal tendo hábitos aquáticos; visto que como poderia ter subsistido este animal durante o estado de transição? Seria fácil demonstrar que existem hoje animais carnívoros que apresentam todos os graus intermediários entre usos verdadeiramente terrestres e usos verdadeiramente aquáticos; ora, estando cada um deles submetido à luta pela existência, precisa necessàriamente de estar bem adaptado ao lugar que ocupa na natureza. Assim, a Mustela vison da América do Norte tem os pés palmados e parece-se com a lontra pela pele, pelas patas curtas e pela forma da cauda. Durante o Estio, este animal nutre-se de peixes e mergulha para aí se sus-