Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/195

DIFICULDADES DA TEORIA
169

curar a origem da vida dele; todavia, como existem certos organismos inferiores sensíveis à luz, se bem que se não possa descobrir entre eles vestígio algum de nervação, não parece impossível que certos elementos do sarcode, de que são formados em grande parte, possam agregar-se e desenvolver-se em nervos dotados desta sensibilidade especial.

É exclusivamente na linha directa dos ascendentes que devemos procurar as gradações que têm trazido os aperfeiçoamentos de um órgão numa espécie qualquer. Mas isto é quase impossível, e somos forçados a dirigir-nos a outras espécics e a outros géneros do mesmo grupo, isto é, aos descendentes colaterais da mesma origem, a fim de ver quais são as gradações possíveis nestes casos em que, por casualidade, algumas destas gradações fossem transmitidas com poucas modificações. Além disso, o estado de um mesmo órgão em classes diferentes pode incidentalmente lançar alguma luz sobre os graus que o levaram à perfeição.

O órgão mais simples a que se possa dar o nome de olho, consiste em um nervo óptico, cercado de células pigmentares, e coberto de uma membrana transparente, mas sem lente nem qualquer outro corpo refringente. Podemos, demais, segundo M. Jourdain, descer mais baixo ainda e encontrarmos então grupos de células pigmentares parecendo representar o órgão da vista, mas estas células são desprovidas de nervos e repousam simplesmente sobre tecidos sarcódicos. Órgãos tão singelos, incapazes de qualquer visão distinta, podem servir apenas para distinguir a luz da obscuridade. Em algumas artérias, determinadas pequenas depressões na camada de pigmento que cerca o nervo são, segundo o autor que acabámos de citar, cheias de matérias gelatinosas transparentes, compostas de uma superfície convexa semelhando a córnea dos animais superiores. M. Jourdain supõe que esta superfície, sem poder determinar a formação de uma imagem, serve para concentrar os raios luminosos. e tornar a percepção mais fácil. Esta simples concentração da luz constitui o primeiro passo, e até mais importante, para a constituição de um olho verdadeiro, susceptível de formar imagens; basta então, com efeito, ajustar a extremidade nua do nervo óptico que, em alguns animais inferiores, é profundamente escondido no corpo e que, em alguns outros, se encontra mais perto da superfície, a uma distância determinada do aparelho de concentração, para que a imagem se forme sobre esta extremidade.

Na grande classe dos articulados, encontramos, como ponto de partida, um nervo óptico simplesmente coberto de um pig-