XIV
ORIGEM DAS ESPÉCIES

de muitas espécies, da dificuldade de distinguir espécies e variedades, e do princípio de gradação geral; conclui que as espécies têm sofrido modificações que atribui à mudança de condições. O autor (1855) estudou também a psicologia partindo do princípio da aquisição gradual de cada aptidão e de cada faculdade mental.

Em 1852, M. Naudin, botânico distinto, num trabalho notável sobre a origem das espécies (Revue Horticole, p. 102, reproduzido em parte nos Nouvelles Archives du Muséum, vol. I, pág. 171), declara que as espécies se formam do mesmo modo que as variedades cultivadas, o que atribui à selecção exercida pelo homem. Mas não explica como actua a selecção no estado selvagem. Admite, como o deão Herbert, que as espécies na época da sua aparição eram mais plásticas do que hoje. Apoia-se sobre o que ele chamava o princípio de finalidade, «potência misteriosa, indeterminada, fatalidade para uns, para outros vontade providencial, de que a acção incessante sobre os seres vivos determina, em todas as épocas da existência do mundo, a forma, o volume e a duração de cada um deles, em razão do seu destino, na ordem das coisas de que faz parte. É esta potência que harmoniza cada membro no conjunto apropriando-o à função que deve desempenhar no organismo geral da natureza, função que tem para ele a sua razão de ser».[1]

Um geólogo célebre, o conde Keyserling, em 1853 (Bull. de la Soc. Geolg., 2.ª série, vol. X, pág. 357), sugeriu que, do mesmo modo que as novas doenças, causadas talvez por algum miasma, têm aparecido e se têm espalhado no mundo, da mesma forma gérmenes de espécies existentes puderam ser, em certos períodos, quìmicamente afectados por moléculas ambientes de natureza particular, e dar origem a novas formas.

No mesmo ano de 1853, o Dr. Schaaffhausen publicou uma excelente brochura (Verhandt. des Naturhist. Vereins der Preuss, Rhein Lands, etc.), na qual explica o desenvolvimento progressivo das formas orgânicas sobre a Terra. Julga que numerosas espé-


  1. Parece resultar das citações feitas em «Untersuchungen über die Entwickelungs-Geselze», de Bronn, que Unger, botânico e paleontólogo distinto, tornou pública, em 1852, a opinião de que as espécies sofreram um desenvolvimento e modificações. D’Alton exprimiu a mesma opinião em 1821, na obra sobre os fósseis, na qual colaborou com Pander. Oken, na sua obra mística «Natur-Philosophie», sustentou opiniões análogas. Parece resultar dos ensinamentos contidos na obra «Sur l’Espèce», de Godron, que Bory Saint-Vicent, Burdach, Poiret et Fries admitiram todos a continuidade da produção de novas espécies. — Devo juntar que em 34 autores citados nesta notícia histórica, que admitem a modificação das espécies, e rejeitam os actos da criação isolados, há 27 que escreveram sobre ramos especiais de história natural e geologia.