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OBJECÇÕES DIVERSAS
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espécie mãe? Se as duas formas tomam hábitos diferentes ou se são adaptadas a novas condições de existência, podem viver juntamente; porque se excluirmos, de uma parte, as espécies polimorfas nas quais a variabilidade pode ser de uma natureza muito especial, e, por outra parte, as variações simplesmente temporárias tais como o talhe, o albinismo, etc., as variedades permanentes habitam em geral, o que eu pude verificar, estações distintas, tais como as regiões elevadas ou baixas, secas ou húmidas. Além disso, no caso de animais essencialmente errantes e cruzando-se livremente, as variedades parecem ser geralmente confinadas em regiões distintas.

Bronn insiste também no facto de as espécies distintas jamais diferirem por caracteres isolados, mas sob muitas relações; pergunta como sucede que numerosos pontos do organismo tenham sido sempre modificados simultâneamente pela variação e pela selecção natural. Mas nada obriga a supor que todas as partes de um indivíduo sejam modificadas simultâneamente. As modificações mais frisantes, adaptadas de uma maneira perfeita a um dado uso, podem ser, como o havemos notado precedentemente, o resultado das variações sucessivas, ligeiras, aparecendo numa parte, depois noutra; mas, como se transmitem todas em conjunto, parecem-nos ser simultâneamente desenvolvidas. De resto, a melhor refutação a fazer a esta objecção é fornecida pelas raças domésticas que têm sido modificadas principalmente com um fim especial, por meio da selecção natural operada pelo homem. Vede o cavalo de tiro e o cavalo de corrida, ou o galgo e o cão de fila. Toda a sua estrutura e mesmo os seus caracteres intelectuais foram modificados; mas, se pudéssemos delinear cada grau sucessivo da sua transformação — o que podemos fazer para aqueles que não vão muito além no passado — verificaríamos melhoramentos e modificações ligeiras, afectando tando uma parte como outra, mas nunca alterações consideráveis e simultâneas. Mesmo quando o homem aplicou a selecção apenas a um único carácter — de que as plantas cultivadas oferecem os melhores exemplos — encontra-se invariàvelmente que se um ponto especial, quer seja a flor, o fruto ou a folhagem, sofre grandes alterações, quase todas as outras partes têm sido a sede de modificações. Podem atribuir-se estas modificações em parte ao princípio da correlação do crescimento, e em parte ao que se chama a variação espontânea.

Uma objecção mais séria feita por M. Bronn, e recentemente por M. Broca, é que muitos caracteres parecem não prestar serviço algum aos seus possuidores, e não podem, por