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OBJECÇÕES DIVERSAS
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ção, a única que conheço, um peixe) não semelham, como meio defensivo, objectos especiais, mas somente a superfície da região que habitam, e esta sobretudo pela cor. Admitamos que um insecto se tenha tornado parecido primitivamente, até certo ponto, a um ramúsculo morto ou a uma folha seca, e que tenha variado ligeiramente em diversas direcções; toda a variação que aumentasse a semelhança, e favorecesse, por consequência, a conservação do insecto, devia conservar-se, enquanto que as outras variações desprezadas terminam por perder-se inteiramente; ou melhor, deviam ser eliminadas se diminuíssem a semelhança com o objecto imitado. A objecção de M. Mivart teria, com efeito, algum valor se procurássemos explicar estas imitações, por uma simples variabilidade vacilante, sem o concurso da selecção natural, o que não é o caso.

Não compreendo tão-pouco alcance da objecção que M. Mivart apresenta relativamente aos «últimos graus de perfeição da imitação ou da mímica», como no exemplo citado por M. Wallace, relativo a um insecto Ceroxylus laceratus que se assemelha a uma varinha coberta de musgo, a ponto que um Diak indígena sustentava que as excrescências foliáceas eram na realidade do musgo. Os insectos são a presa das aves e de outros inimigos dotados de uma vista provavelmente mais penetrante do que a nossa; toda a imitação podendo contribuir para dissimular o insecto tende pois a assegurar tanto mais a sua conservação quanto esta semelhança é mais perfeita. Se se considera a natureza das diferenças que existem entre as espécies do grupo que compreende o Ceroxylus, não há improbabilidade alguma para que este insecto haja variado pelas irregularidades da sua superfície, que têm tomado uma coloração mais ou menos verde; porque, em cada grupo, os caracteres que diferem nas diversas espécies estão mais sujeitos a variar, enquanto que os da ordem genérica ou comuns a todas as espécies são mais constantes.

A baleia da Gronelândia é, entre todos os animais, um dos mais admiráveis, e as barbas que lhe revestem a maxila, um dos mais singulares caracteres. As barbas consistem, de cada lado da maxila superior, em uma fila de pouco mais ou menos trezentas placas ou lâminas aproximadas, colocadas transversalmente ao eixo mais longo da boca. Há, no interior da fila principal, algumas outras subsidiárias. As extremidades e os bordos internos de todas as placas cindem-se em espinhos rígidos, que cobrem o palatino gigantesco, e servem para tamizar ou filtrar